terça-feira, 24 de julho de 2012

Ilusão de Vaidade


Pois não acredito nesse homem.
Veja bem, menino.
Prefiro lhe explicar minhas razões
Do que aos que pensam ser você tão inocente,
E não percebem a regularidade dos atos, porque a distração
É a amiga mais íntima dos que pensam ver,
Mas são cegos de si mesmos, por não assumirem
A dissimulada brincadeira que é viver.

Toda liberdade é vaidosa, e por isso mesmo
Deixa de ser o que anuncia. Pois bem, é preciso
Nela crer para ir em direção ao que
Se deseja sem saber, mas é desejo, é prazer.

Nada é livre neste mundo, nem o vento
Que sopra um querer obedecente
De outra vontade oculta aos displicentes.
Livre mesmo é o que sabe que não é livre,
Por saber escolher ao que quer se assujeitar.
Ainda assim não étão livre no verbo
De decisão, revelante de uma cisão
Profundamente escondida, mas pulsante.

A vaidade é a mãe dos homens livres,
É filha do desejo rebelado; dos gananciosos
É deusa; dos sábios é vizinha mal educada.
Mas é serva dos poucos que sabem
Brincar de pique esconde: ora o poder é dela,
Outra vez é deles; na procura eles a encontra,
Na caçada no lugar secreto estão a viver.

Viver é uma brincadeira, quiçá, boba,
Quem brinca ganha, mas também chora
Por não vencer. Criança não quer só brincar,
Quer jogar o jogo da aparente inocência
Do poder prazeroso que há em se ganhar ou se perder.

Menino, vai brincar.  Pelo menos
Com apenas um simples doce lhe enganam.
Mas ai dos que a si mesmos se enganam,
Saboreando de seus pensamentos sofisticados
Preparados com a doçura velada
Da ilusão de liberdade. Triste,
Eles passam mal e emagrecem no trono
Como reis do próprio (des)prazer
Assentados ao odor de suas (de)cisões.

Corram, fechem porta e janela.
Lá vem ele, lá vem ele! - Ele quem?
Corram, tampem boca e nariz.
Lá vem ele, lá vem ele! - Ele quem?
O alívio do rei. – Que rei?
O rei que está dentro da barriga de todos nós.

Jequié, 05 de Janeiro, 2012.

2012 © Lucas Nascimento

Texto publicado originalmente em www.lucasnascimento.jimdo.com em 2012

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