terça-feira, 24 de julho de 2012

A vida brilha, mas é frágil


“Eu sentia e sinto que a vida em si brilha como diamante, mas é frágil como uma vidraça”. Nesses últimos dias eu me peguei pensando, muitas vezes, nessa percepção do influente e bem humorado escritor inglês Gilbert Keith CHESTERTON, não somente nessa, mas em todo um livro chamado “Ortodoxia”. E não é assim, na maioria das vezes não são os livros que marcam, contudo, aforismos, frases que sintetizam boa parte do conteúdo do livro, ainda assim, diria que o livro é marcante.

Pois bem, chego à conclusão de que a vida é assim mesmo: brilhante, fulgurosa, mágica, esplêndida, cristalina, mas a golpeie para você ver se ela não é frágil. Tentamos nos mostrar fortes, construir uma imagem impressionante e vivemos sempre maquiando a fragilidade nossa de cada dia, todavia no anverso de nosso ser somos esses seres frágeis que habitam castelos de vidros em colinas de vidro e calçam sapatos de cristais, se olham em espelhos e acreditam em “magia”. Penso cá comigo: talvez esse mundo fora criado para não receber golpes nem pedradas, dada a fragilidade.

Mas não temos olhos para perceber isso facilmente, não temos olhos para o anverso que deveria ser o verso, nossos olhos viciados no racional só enxergam que quem mora em casa de vidro e tem sapatos de vidro são os personagens de contos de fadas. A ideia de a vida ser frágil como o vidro e brilhante como o cristal é coisa romântica demais, é coisa de literatura infantil, coisa daquelas estórias que se conta para distrair crianças. Pois então, já algum tempo tenho visto mais razoabilidade nos contos de fadas do que no materialismo histórico e filosófico, do que no pragmatismo e outras bobagens bem elaboradas que nos encantaram da modernidade para cá.

Talvez sejamos adultos demais para acreditar nisso, a humanidade avançou demais para se atentar para os acenos e sentimentos despertados pelo mundo “surreal”. Crescemos tanto que somos mais infelizes do que nunca; tanto que, enquanto humanidade, estamos despedaçados como cacos de vidro. Pouco sentido a vida faz. O que nos resta é olhar para os cacos do que foi uma bela vidraça ou castelo e dizer que eles não se harmonizam, cada um tem uma forma diferente, que não fazem sentido algum e que foram criados assim. Então, tentando dar sentido ao caos, com os pedaços de vidro fazemos arte e chamamos de contemporânea e, para alívio temporário de nossa tremenda falta de sentido, aprendemos a admirar exageradamente os farelos de vidro ao invés dos diamantes ou castelos de cristais. No entanto o problema não está na arte, está em nós mesmos, em nossa limitada filosofia pós-moderna que diz que é obrigação nossa inventar o sentido da vida, na ilusão de que somos origem de alguma coisa.

Numa ocasião o Jornal London Times pediu a alguns escritores que respondessem a pergunta: “O que há de errado com o mundo?”. Chesterton enviou a resposta mais sucinta:
    Prezados Senhores:

    Eu. 

    Atenciosamente,

    G.K. Chesterton


Nesse plano, reconhecer que somos problemáticos e frágeis é onde está a beleza e a possibilidade de solução da coisa. Mas ainda bem que somos quebráveis, porém não somos perecíveis. “Golpeie um vidro, e ele não vai resistir um instante; simplesmente não o golpeie, e ele vai resistir mil anos”. Pois então, nossa vida muitas vezes é um caco porque estamos sempre a golpeando, apertando agressivamente e deixando a alegria e brilho escorrerem por entre a palma de nossa mão. Estamos vivendo e nos distraindo a partir da lógica e paixões do verso e não a partir da razoabilidade, amor, poesia, emoções e magia do anverso.

Nesse nosso plano é assim, só com os golpes dados em nossa vida que vamos percebendo o quanto ela é frágil e que precisa ser valorizada pelo que realmente importa e nos faz melhores. Sempre recebemos e danos golpes na vidraça da vida no nível biológico, psicológico, emocional, social e espiritual, e isso tira e ofusca o brilho que podíamos ter e ver, caso tivéssemos atitudes melhores em relação a nós e ao outro. Contudo, se acreditamos em coisas de criança, certamente haverá uma magia divina que sempre pode trazer o brilho de volta, essa é a lógica irracional e razoável da vida. A vida brilha, mas é frágil.


Jequié, última segunda-feira de Janeiro, 2012.

RELEIA até REFLETIR.

2012 © Lucas Nascimento

Texto publicado originalmente em www.lucasnascimento.jimdo.com em 2012


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