O mundo
pulsa o caos e a beleza. Temos razões para sermos tristes de morrer e alegres
de viver. É possível ver indícios de que podemos ter um mundo completamente
novo e fulgurante, onde as pessoas se amem, onde haja para todos vida digna,
emprego e empresas comprometidas com a vida e todos concentrados na felicidade
do próximo; haja direito e acesso à saúde, que pessoas sejam assistidas em suas
necessidades básicas à manutenção da vida minimamente saudável. Mas também é fácil
ver um mundo com fortes cenas de desgraça e destruição, onde pessoas vivem a
miséria simplesmente porque nós não nos importamos, ou mesmo, porque inventamos
motivos gananciosos para fazermos guerra. É visível um mundo onde reina a
maldade desumana, a corrupção com seu poder corrosivo, as opressões múltiplas, as
incontingentes catástrofes e desgraças mil.
O mundo é
como o pendular do sino que tine, indo do sim ao não e voltando do não ao sim, com suas fortes badaladas. O sim alimenta o coração dos otimistas que veem
sempre um mundo ideal, acreditam que nós, seres humanos, por meio da ciência e
da tecnologia conseguiremos criar um mundo novo se apenas eliminarmos alguns
males que atrapalham o progresso, acreditando assim, veementemente, no
potencial humano. O não nutre a cabeça dos pessimistas que acham não ser
possível um mundo melhor, preveem a decadência porque somos decadentes, ou
seja, por acreditarem que o homem é, por natureza, mal, destruindo rapidamente
o que consegue fazer de bom.
Contra a
lógica dos que ficam surdos pelas badaladas que a lingueta do sino faz, eu
prefiro ficar com o som que ecoa enquanto a lingueta faz seu percurso entre um
extremo e outro, digo, enquanto o sino ecoa sua melodia despertante. Entre pessimistas
e otimistas, prefiro ser o esperançoso, e a esperança é o que deve nos mover
para o amanhã, a esperança é um lugar onde precisamos habitar, é o espaço do
bom senso, pois ela não nos cega para as circunstâncias ao redor, nos faz ver o
que precisa ser visto sem nos deixar conformar. A esperança não nos deixa cair
na ilusão eufórica de quem quer construir um mundo novo a qualquer custo sem
perceber que está destruindo o mundo real.
Fico do lado daqueles que sabem
que podem mudar o mundo mudando a si mesmos, pois compreendem que cada ser
humano é um mundo. Assim, sabendo que também precisam ser ajudados, põem-se à
disposição para ajudar os enlutados, os famintos, os desabrigados, os que
sofrem injustiça e mesmo os que são felizes, ou seja, não negam ajuda ao
semelhante. Na verdade, fico do lado daqueles que amam, não os que amam os seus
nobres ou revolucionários ideais, mas dos que amam pessoas e sabem que tanto o
mundo de hoje como o de amanhã são feitos de gente como a gente. Posso tentar
traduzir em melodia esse anúncio de amor: “É preciso amar as pessoas / Como se não
houvesse amanhã” (Legião Urbana, “Pais e Filhos”). Talvez o amor seja a melhor harmonização
entre o sim e o não do mundo, amar assim já seria uma boa possibilidade de um
verdadeiro mundo novo. Eis a esperança pulsante.
©Lucas Nascimento
Crônica com Música, 25 de
fevereiro, 2013
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