terça-feira, 24 de julho de 2012

A Dança do Mistério


Descalcei as sandálias... em passos lentos, silenciosos, sentei-me ao chão, uni-me com o que sou, pó. Sentei-me ao redor do mistério, por ali me aconcheguei em seu calor, por sua luz meu rosto foi sendo contornado, clareado. Já não mais vi a minha sombra, não mais senti o frio. Sem receio e sem censura, despi-me das capas que me protegiam da gelidez da noite, mas que me escondia de mim mesmo e do meu semelhante; e assim, desnudei-me das roupas que pesavam em meu corpo e, como bolinhas de papel, lancei ao fogo as ansiedades que me prendiam diariamente ao amanhã. Sem dizer uma só palavra, do mistério fui me alimentando, bebendo, saciando tudo que em mim era faminto, sedento; e a cada instante, tudo que era sem forma foi ganhando formosura, tudo que era vazio foi ganhando contentamento. De repente, do fogo surgiu uma voz, envolveu-me ao seu som indescritível de belo, teceu sentido compreendido por todos os cantos de meu ser e apreendido por cada imensidão do meu eu. Mas eu, eu nada disse. Eu estava tomado pelo mistério, embriagado por seu encantamento.

Da eternidade que ali passei, ainda me lembro de ter olhado para o lado e ter visto um infinito círculo feito de gente, e todos em pé, de pés no chão, sem exceção, dançavam e cantavam trocando as mãos sincronicamente ao redor do mistério em glória. Todos estavam embriagados por algo muito forte. E eu, eu também estava de mãos dadas bailando a dança giratória e inclusiva do eterno, da trindade; a dança da imersão no para sempre; a dança da nova humanidade, e aquela foi a mais bela cantiga de roda que já brinquei, e de novo pude ser criança, assim como me prometeu quem me convidou, o mestre. 

Gan Éden, 22 de Janeiro de 2012.

2012 © Lucas Nascimento

Texto publicado originalmente em www.lucasnascimento.jimdo.com em 2012

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