Descalcei as sandálias... em
passos lentos, silenciosos, sentei-me ao chão, uni-me com o que sou, pó.
Sentei-me ao redor do mistério, por ali me aconcheguei em seu calor, por sua
luz meu rosto foi sendo contornado, clareado. Já não mais vi a minha sombra,
não mais senti o frio. Sem receio e sem censura, despi-me das capas que me
protegiam da gelidez da noite, mas que me escondia de mim mesmo e do meu
semelhante; e assim, desnudei-me das roupas que pesavam em meu corpo e, como
bolinhas de papel, lancei ao fogo as ansiedades que me prendiam diariamente ao
amanhã. Sem dizer uma só palavra, do mistério fui me alimentando, bebendo,
saciando tudo que em mim era faminto, sedento; e a cada instante, tudo que era
sem forma foi ganhando formosura, tudo que era vazio foi ganhando
contentamento. De repente, do fogo surgiu uma voz, envolveu-me ao seu som
indescritível de belo, teceu sentido compreendido por todos os cantos de meu
ser e apreendido por cada imensidão do meu eu. Mas eu, eu nada disse. Eu estava
tomado pelo mistério, embriagado por seu encantamento.
Da eternidade que ali passei,
ainda me lembro de ter olhado para o lado e ter visto um infinito círculo feito
de gente, e todos em pé, de pés no chão, sem exceção, dançavam e cantavam
trocando as mãos sincronicamente ao redor do mistério em glória. Todos estavam
embriagados por algo muito forte. E eu, eu também estava de mãos dadas bailando
a dança giratória e inclusiva do eterno, da trindade; a dança da imersão no
para sempre; a dança da nova humanidade, e aquela foi a mais bela cantiga de
roda que já brinquei, e de novo pude ser criança, assim como me prometeu quem
me convidou, o mestre.
Gan Éden, 22 de Janeiro de 2012.
2012 © Lucas Nascimento
Texto publicado originalmente em www.lucasnascimento.jimdo.com
em 2012
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