Estou mudo há alguns dias, a
gente faz isso não porque a gente quer, mas muitas vezes é para raspar da alma
as chagas virais, as coisas ruins que os becos da vida nos dão de bagagem.
Outras vezes é para não escrever besteiras, dizer coisas inconvenientes que
algumas pessoas não suportariam ouvir, coisa para um bom pseudônimo; vai ver
tem algum meu por aí, mas isso não revelarei a ninguém. E existem tantas
outras razões para se ficar mudo, inclusive uma gripe nojenta com seus
acompanhantes infernais.
Tenho tantas coisas a dizer, de
assuntos do céu ao inferno, de filme a economia, passando por religião, é
claro. Mas não tenho paciência para falar de nenhum desses assuntos, estou um
ser preguiçoso para tanto. Minha alma está se recuperando, estive mudo e não
posso sair falando tanta coisa, é preciso fazer uns exercícios de recomeço,
apesar de tantos dedos me beliscarem, contudo preciso recuperar meu humor,
porque se não, ou falarei de coisas melosas ou falarei de desesperança. Falando
nisso, acho que venho lendo muito Luiz Felipe Pondé, ele que é o filósofo que
se põe “Contra um mundo melhor”.
Verdade, gosto dele, acabei de
ler um texto do Pondé publicado na Folha de São Paulo (14.11.2011), no qual ele
diz: “Hoje acordei um tanto leviano. Em dias assim, falo a sério de filosofia”.
Pois então, no texto ele é contra se combater a artificialização da beleza em
nome da beleza natural, ao que argumenta que “Se Deus não existe, toda beleza
artificial é permitida. Logo, viva o silicone”. Aí então ele fala do direito
aos seios bonitos por parte de todas as mulheres, nada mal para um freudiano.
Continuando, ele resolve falar da ontologia da mulher, “a ontologia diz o que
você é”, que segundo ele “passa pelos seios, pelas pernas e pela doçura, assim
como a do homem pela potência e pelo dinheiro”. Pois é, esse ex-ateu parece
defender que silicone deveria ser oferecido pelos SUS para todas as mulheres
pobres, na verdade ele diz isso. Imagine a fila [...].
Sou fã do Pondé porque ele fala e
constata cada coisa que fico a pensar e a ri bastante. Quem consegue adentrar
na ironia e no pessimismo de Pondé se apaixona, não é à toa que uma conhecida
minha, jovem psicóloga e analista do discurso, disse que ele só não é o ídolo
dela porque é feio para sê-lo. Pois bem, hoje como não queria falar de coisas
de amor, nem de desesperança etc e tal, não queria nem falar, deixo que esse
filósofo pessimista fale: “Colocar silicone pode ser um pedido discreto de
amor. [...] A beleza artificial é uma batalha discreta contra o vazio do corpo
e da alma”, escrever também o é, bem como ler. “Tudo é vaidade”.
2012 © Lucas Nascimento
Texto publicado originalmente em www.lucasnascimento.jimdo.com
em 2011
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