Cada um a seu jeito tem a maldade
disposta a ser a parceira no “jogo da vida”, ou melhor, tem em si a potência
avassaladora do mal, uma natureza perversa. Quem se acha uma pessoa boa
demais é porque está se olhando num espelho subornado. Hoje, fico com um pé
atrás com aquelas pessoas que se acham santas demais, boazinhas demais; elas
pouco sabem disto, mas são pessoas perigosas, porque ou são hipócritas ou estão
brincando de ninar com uma fera selvagem na hora da sesta, pensando que o bicho
é um gatinho dócil, quando, na verdade, é um leão sonâmbulo dentro delas mesmo.
Pois bem, a teologia e a
filosofia cristãs mostram que o ser humano pode viver subordinado diretamente à
“ética” da natureza e ser um monstro social, entregue à lógica do poder, do
ódio, da avareza, do sexo etc. e por isso mesmo serem piores do que os animais
selváticos. O que acontece é que essas pessoas vão se demonizado, vão sendo
possuídas por aquilo que apenas lhes dão prazer e perdendo o que é propriamente
humano, por assim dizer, já não mais se tornam nem mesmo dignas da designação
de animais, mas de bichos ou de demônios mesmo. Para se tornar um desses
demônios não é preciso muita coisa, é simplesmente deixar se levar pela lógica
das coisas em si mesmas, talvez não seja preciso nem fazer grandes escolhas é
simplesmente não as fazer, é deixar se levar pelas escadas rolantes de um
abismo que sempre leva a outro mais breu. Por isso que precisamos nos conhecer
e a todo o momento estar rogando “livra-nos do mal”; aí é que está a Graça - é
isso também, de forma sofisticada, que a filosofia e teologia cristãs nos
mostram - além de esta nos dá um conhecimento trágico e prudente de nós mesmos,
antes de tudo, nos oferece o perdão e a possibilidade da regeneração. A graça é
aquela mão divina que incondicionalmente desce na direção humana e depois de
nos dar um banho de perdão e amor nos dá a liberdade de outra vez escolhermos o
que queremos para nossa vida. Pensar a graça é loucura e sofisticação, vive-la
é indescritível.
Não tem gente boa nesse mundo,
bom mesmo é quem sabe que é mau, e consciente disso se submete todos os dias à
verdadeira bondade da graça e deixa se seduzir pelas delícias do eterno. Então,
que ao mínimo despertar do mal em nós, possamos vencê-lo a todo o momento com a
força da graça e deixar de acharmos que somos bonzinhos, mas ao mesmo tempo
deixar de nos sentirmos vítimas, como se fossemos fantoches do mal e do pecado,
pois bem, que sejamos graça e não desgraça, que escolhamos e deixemos ser
escolhidos por ela, que sejamos rendição à semelhança do Filho por amor ao “Pai
nosso que está no céu”, amém.
Lucas Nascimento
Manhã de uma quinta-feira
chuvosa, 20 de outubro de 2011,
Salvador, Bahia.
2012 © Lucas Nascimento
Texto publicado originalmente em www.lucasnascimento.jimdo.com
em 2011
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