domingo, 2 de setembro de 2012

Entre o diálogo e o totalitarismo


Hoje já não tenho mais a sensação de que o mundo sempre tende ao totalitarismo, digo, o ser humano, hoje pousa em mim serenamente essa certeza. Não precisa você chegar aos cinquenta anos para descobrir isso, nem muito menos ter um doutorado em sociologia, filosofia ou em alguma área afim a essas. Até porque isso depende do ponto de vista que se assume diante da vida e depende de se ter honestidade intelectual, o que falta a muita gente. Honestidade aqui perpassa por reconhecer e saber lidar com o fato de que nossas crenças e desejos influenciam nossas opiniões e teorias, mas não apenas influenciam, por vezes, tentam manipula-las.  

A questão é que sempre o ser humano tem uma “boa causa” pela qual lutar, e como em cada época tem-se uma sociedade com hierarquização de valores minimamente diferentes, então, a cada época aparece boas causas associadas a esses valores de forma que elas são sustentadas por tais; quando não, busca-se mudar os valores sociais para que as causas sejam válidas.

Numa sociedade como a nossa em que o critério de verificação de “verdade” que deve ser socialmente obrigatória compete à Ciência, tem-se, por sua vez, esta como instrumento de muitas manobras em favor de determinadas causas, assim como o foi quando a religião tinha esse poder, ou melhor, quando se vivia em um Estado Religioso em que as Escrituras Sagradas eram “interpretadas” pela Igreja para validar determinadas ações ou aberrações, porquanto, o critério de verificação de veracidade passava apenas pela interpretação eclesiástica das escrituras, ademais pela tradição.

Para mim os dois critérios são falhos, ao que temos exemplos de totalitarismos absurdos em ambos. Não cabe aqui entrar no mérito da questão. De qualquer forma, cumpre a todos buscarmos um “discurso sensato” contra as mais diversas formas de totalitarismos, como fizeram bons pensadores nos anos de 1950 na Europa elaborando tratados para tanto. Contudo é preciso atenção para o fato de que normalmente totalitarismo não nasce como tal, surge sempre de “boas causas” evoluindo para o “politicamente correto”, até chegar o momento de lhe prenderem por você não pensar como eles. Por “não pensar como”, apenas isso.

Se o ser humano, por natureza, tende ao totalitarismo, por razões mais fortes, nós sempre tendemos a querer impor nossas teses, digo, nossos pontos de vista, ou defender a qualquer custo nossas causas, ainda mais se achamos que somos “vítimas” da opressão alheia. Porquanto, faz-se necessário tentarmos domar essa fera impulsiva dentro de nós e buscarmos a sensatez, a razoabilidade para determinadas questões. Portanto, urge buscarmos um diálogo heurístico, em que numa discussão se busca o razoável, digo, o melhor para a sociedade; em contraposição ao diálogo erístico cuja meta é embaraçar o interlocutor tendo-o meramente por adversário, não reconhecendo nada de justo no que ele defende, ou mesmo, não reconhecendo como cidadão com direitos numa sociedade democrática e pluralista.

O que temos visto crescer no Brasil é um totalitarismo sorrateiro em que um pequeno grupo da sociedade tem tentado impor seu modo de vida particular aos demais. O grupo parte do princípio da busca por justiça social, afirmando que busca os direitos negados, e na atribuição de uma “homofobia” generalizada, tem-se recorrido a métodos tantos, por vezes muito questionáveis, para conseguir o que se deseja. Entretanto os ativistas dessa causa desejam mais do que imagina a mente manipulável dos simpatizantes, de modo que aos olhos dos mais atentos tem-se percebido que eles não apenas querem os direitos sobre os quais advogavam, contudo desejam converter a sociedade ao que alguns filósofos já chamam de “gayzismo” ou “ditadura gay”. Como não poderia deixar de ser, para fazer jus aos termos, eles têm manipulado o necessário para impetrarem sua forma de governo totalitário.

Precisamos discutir e firmar cada vez mais os princípios de um pluralismo social, para isso é preciso cuidar e lutar para que o Estado, bem como as demais instâncias jurídicas e sociais, no ímpeto ou mesmo na desculpa de se fazer justiça à causa alheia, faça aberração, ferindo os princípios de uma sociedade minimamente plural, por sua vez, democrática. Precisamos ter em mente que na maioria das vezes o totalitarismo nasce, pelo menos aparentemente, de uma boa causa, razão pela qual muitos se identificam sensivelmente pela tal e outros tantos lutam alienadamente. O totalitarismo não nasce como tal, mas os mais atentos logo percebem suas garras letais, é sempre assim.

© Lucas Nascimento 


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